segunda-feira, 13 de janeiro de 2014


O LÍRIO, O POETA E O JARDIM

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Toco-lhe a face como quem toca uma flor
Tentando caricias sem que lhe tire pétalas
Sou esse eu que te protege de mim
Das minhas angustia e proposital solidão.

Beijo-lhe os lábios como quem assopra uma sopa
Desejo senti-la, sem que derrube-a ao chão.
Sou esse eu que lhe provoca o afago
Sem que às minhas ânsias nos roube a razão.

Faço de nós a distância que se desfaz
No encontro de almas, braços e tronco.
Em um primeiro passo de valsa e encanto.

Seremos nós, a clássica inspiração.
Dos poetas que um dia descreveram
Às estripulias de dois corações.

II

Quantos sóis cabem em um único jardim?
Terei eu, mãos suficientes, para cultivar lhe,
Às folhas que lhe garante a beleza,
Dignas de longas poesias sinceras?

Ah lírio! Lírio que tanto canta e encanta.
Que andaste sempre nos versos calados
Eterna culpada da amiúde insônia serena.
Do poeta que lhe eterniza na ponta da pena.

Um dia, mostro-lhe no impulso do desespero,
Às rimas com seu nome no meu peito
Os versos em vapor, no espelho do banheiro.

Um dia, laço de algum jeito aquela lua,
Que de intrusa, nos espiava lá de cima.
Deixo-a de surpresa na tua rua.