segunda-feira, 22 de julho de 2013



PENSAMENTOS EM ONDAS

De fato, o mar, entre tanto
Por entre nós tem enganos.
Fez destes traços sem planos,
Navegar sem rumo, sem pranto.

Desfazer-se de nossas velas,
Ser poeta sem mazelas
Me desfazer do mundo sem janelas.
Abrir prisões, ver futuros.
Moradias só sobre muros.

Sorrio assim sem teto.
Brindo o mundo sem tédio.
Dentre mares eu ergo prédios
- Nem sou como fui.
Sou sim, como eu quero!

Renascem vidas sem esperas,
Padecem assim promessas.
- Assim eu morro como um dia vivi.
Vivo como um dia ei de morrer!

Que haja festa menos fúnebres,
Como aquelas que um dia existiram.
Nos anos ingratos que se perderam.
Dos presentes sem presente gratidão.

quinta-feira, 18 de julho de 2013



VERSOS SEM MÉTRICAS

Senti, e não foi por mim.
Talvez sua brisa passasse
Ou, essa sombra sem fim.

Esse balé sem molduras
Ou esse sonho de ti...

- É o que eu tenho, sim!
Não por colher e ser,
Mas por não saber não ser.

Esse esboço despretensioso
Sem caprichos de qualquer.

Falta métrica em seus descasos.
Fiz da minha falta de uso,
Um altar no vão dos seus braços.

E é tanto que fizeste sem fazer
Que não há preenchimento no lugar.

Então mude o que mudaste sem mudar.
Assuma o descompasso que causou.
Volte e der razão ao meu olhar.


segunda-feira, 15 de julho de 2013





RUA DA BAHIA

Tardia noite, como a manhã.
Versos perdidos de suas calçadas.
Cintilar de copos de uma sexta,
Conserva sorrisos. Amansa incertezas.

Honra. Para nos é, seguir Drummond.
Ao perder-te em seus encantos
E namorar-te as lembranças.
Tuas esquinas transpiram danças.

sexta-feira, 12 de julho de 2013






FOLHAS NO JARDIM

No jardim, que há tempos não ia.
Senti tuas folhas tocando meu rosto
Vi o seu sol assim sobreposto
Iluminar com vida minha poesia.

Pés descalços na terra gelada,
Perdi o medo de achar espinhos.
Entreguei ouvidos aos passarinhos.
Acordei sonhando e não temo nada.

Quero brincar no balanço mais alto
A altura não mais me intimida.
Não me importo se virão feridas.

Quero ver coelhos em nuvens,
E não ligo se dizem que não é algodão.
Admiro as folhas secas caídas ao chão.




quinta-feira, 11 de julho de 2013



Seja,
Como for,
Amor.
Seja flor.
Não dor.
Deixe o resto.
Não eu.
Diga: oi!
Nunca,
Adeus.

terça-feira, 9 de julho de 2013









ENSAIO SOBRE O VAZIO E À INSIGNIFICÂNCIA 

Desço as escadas do ônibus, como quem chega a uma batalha. 
Sigo os ladrilhos da calçada, percebo então que já não sigo nada. 
Observo tudo, e desta vez, sem indiferença. 
É um vazio em tudo que me esfria a alma 
Mas hoje, existe mais clareza nessa multidão. 
E é essa certeza, de está vendo tudo. 
Que me trás o medo e me deixa mudo. 

Vejo tanta gente parecida comigo 
E mesmo assim, não me sinto pertencente a nada! 
Sou um vazio dentro do vazio de algum vazio de qualquer lugar. 
Sinto isso às vezes em outras pessoas 
E essa gente parece não ligar. 
Talvez seja coisa atoa, talvez seja o nosso olhar... 

Chego até ao bar da esquina. O mesmo que eu já não frequentava, 
Fazia um bom tempo. 
Pergunto sobre o Sr.. Valdemar. - Garçom que sempre me atendia com simpatia. 
Recebo então a triste notícia de sua morte: já faz alguns anos. – Me informa o rapaz. 
Instantaneamente, uma tristeza me consome. 
Lembrei-me de tantas vezes, nessa mesma mesa. Eu escrevendo versos 
Com tantas certezas. E hoje não há mais você. E eu? Ainda não sou nada. 

Não sabemos o motivo de estarmos aqui 
Não sabemos nem se tem algum motivo. 
Vamos então vivendo. Ignorando pessoas, ignorando a nos mesmos.
Até que chegue a nossa partida e vamos ser apenas 
A surpresa da resposta, quando por nos, alguém perguntar. 
Irão ficar tristes por alguns minutos. 
Alguns, quem sabe, até irão chorar. 
Amanhã, já será passado. Já será vazio em outro lugar. 

Retiro da mochila um caderninho velho e começo a escrever. 
Como se isso me ajudasse a entender tudo 
Como se fosse fazer alguma diferença para mim, ou, para alguém. 
Ergo o braço para o garçom, ao perceber que eu já estava ali, faz tempo. 
Perdido nos meus pensamentos tolos sem fazer nenhum pedido. 

Quando chega o vinho, já estou em meia folha. 
Passaram-se meia hora. E nem ao meio, se quer, me sinto. 
Fico ali, brincando com as palavras. 
Ignorando o mundo, como assim, me sinto. 

Um casal senta-se à mesa ao lado. 
Posso sentir os seus olhares pesando em mim. 
Julgando a minha solidão, se achando tão superiores. 
Vazios! Eu sei que também são. 
Como todos nesse bar, como eu, como o garçom. 

Pintamos esse quadro de prepotência em nossos rostos 
E vivemos todos tentando nos enganar. 
Mas no final, somos só brisa que passa. 
Ausência que será preenchida 
Como um dia fizeram com o Sr. Valdemar.