sexta-feira, 27 de setembro de 2013




QUANDO SENTIRES MEDO

Cantarei para embalar teu sono
Entre os cantos mais escuros do seu travesseiro.
Deixarei meus versos mais singelos
No ouvido frio que mais sente medo.

Enroscarei desejo no fio dos seus cabelos
Rimarei seus olhos com o mundo inteiro.
E será poesia presa em seu teto,
Para que sinta o céu muito mais perto.

Desenháreis-me inteiro na porta do seu quarto.
Uma pintura em lágrimas em forma de um abraço.
Para que quando o frio trouxer a solidão,
Lá estará minha imagem e o meu coração.



quinta-feira, 26 de setembro de 2013



INSÔNIA DO POETA

Respirou fundo. Da caneta ao mundo.
Era só um silêncio que persistia em cantar.
Cantou o mundo em um minuto surdo
Vontade do balé em pedregulhos que se recusa parar.

Das canelas arranhadas de correr pelos becos
De quem lia Drummond escondido no banheiro.
- Era só uma vontade de rimar as dores.
De curar solidão com versos sem flores.

Sigo firme com a cabeça que não para.
Ainda tenho dramas que dispensam falas.
- Se sonhos são eternos como dizem os boatos
Porque permaneço escrevendo acordado às 4?

Vago no abismo em que meus sonhos se escodem
Vago no vagão vazio onde se perdem os que não dormem.
Soa assim a lírica clássica de qualquer poeta bêbado
No enredo dos sonhos que não tive ao ficar acordado.










OLHOS ALÉM DA FUTILIDADE

Quero olhos que enxerguem a alma
Olhos que vejam além, que traga calma.
Que veja mais do que meu tênis rasgado
Que entenda meu desastre que aprecie meu descaso.

Olhos que sejam um além do seu umbigo.
Que mergulhe em meu mar, que veja o infinito.
Quero olhos a mais de qualquer futilidade.
Olhos que sem piscar desfaçam uma saudade.

Olhos que não mintam quando eu com medo insistir
Que digam apenas verdades que os sonhos pedirem
- Olhos muito além da falsidade e maldade.

Quero olhos fies as estrelas e a lua
Que jure ao mar que suas correntezas nunca falharão.
Olhos que vençam por mim o mar, os terremotos e o furacão.




sábado, 21 de setembro de 2013



GIZ DE SONHOS

Desenhei um parque na calçada
Mas era giz, não duraria nada.
Fui feliz enquanto pintava-o.
Era giz de sonhos sem falas.

A chuva veio e cedo o-lavou.
Foi se embora a roda gigante
O carrossel de amor.
- Parques de giz não duram na chuva.

Foi o sonho eterno mais curto que tive.
Minhas mãos ainda manchadas de branco
Limpavam as lágrimas do meu longo pranto.
Se foi com a chuva a magia e o meu desencanto.

A chuva que veio e cedo o parque levou,
Deixou também quadro limpo e muito giz pra usar.
E a esperança de sol que vem depois de chover
Me trazem novos parques pra brincar com você.



quarta-feira, 18 de setembro de 2013





A BORBOLETA, O FURACÃO E A JANELA

Juntou seu sol, sonhos e lembranças.
Ergueu seu vel. Entre neblina de esperança.
Desafiando o ar, o tempo é só um acaso.
Bateu suas asas como seus últimos passos.

Mandou avisar ao girassol:
- O mundo é um carrossel de rodas soltas.
A garoa só pesam mais suas asas.
A garoa só pesam mais suas falas.

Passou no cravo, beijou a rosa.
Um abraço nas orquídeas com amor.
Mandou um adeus as margaridas
Deixou um abraço ao beija-flor.

Disse que não podia esperar.
Partiria a noite no próximo furacão.
Levaria contigo uma saudade infinita
A valsa dos grilos e canção da cigarra cinza.

Antes de ir observou todo seu lar
- Uma dor no peito um choro no coração.
Fechou os olhos. Não pode evitar.
E assim foi só, o furacão.





domingo, 8 de setembro de 2013





AMO-TE

Quem cavou esse jardim em mim
Não cultivaste as flores do amor.
Neste vago, das terras férteis.
Viria o amor antes da prece.

Beijo o amor antes da flor
Porque te espero antes de tudo.
Na solidão que foi meu mundo.
- Plebeu em versos e imundo.

Clamo-te os versos em desespero.
Nem se quer treino-os em frente espelhos.
Ao julgar-me em sombra face
Amo-te hoje em toda parte.

Meu coração em toda parte,
Ocupa-se de seus detalhes.
Vaga em teus sonhos e seus desfaces.
Ama-te a vida e suas verdades.

Nem puro sou desse sangue em álcool.
Amo-te os olhos e seus recalques.
Sinto saudade do seu perfume doce,
Amo-te antes, mesmo que fosse.


sexta-feira, 6 de setembro de 2013



FEBRE, CONHAQUE E SOLIDÃO

É tanta volta, que me revolta.
Sempre paro. Não volto em nada.
- Esse mundo é uma febre dolorosa
Numa sexta, de chuva gelada.

Arrepio-me com a brisa fria
Sopram seus olhos, me levam suas falas.
- Estou sem ar, com frio e sozinho.
Não vejo dragão. Só vejo moinhos.

A minha cama – que é um alcatraz,
Soletra-me fonemas de guerra, sem paz.
No duelo em que a febre quase me derrotou
Dói-me mais o vazio que a poesia deixou.

Soam versos de febre em delírio
Conhaque puro para amenizar.
Minha poesia que é quase um adeus,
Não desse mundo. Mas dessa febre vulgar.




domingo, 1 de setembro de 2013




SEUS OLHOS

São seus olhos, eu sei.
Ao mudar os meus acertos,
Olhos de cidade acesa.
Fazem e desfazem medos.

São seus olhos, que cegaram meu passado.
Escravizou minha atenção.
Olhos ao título de poesia.
São tão eles, minhas alegrias

Olhos que não me deixam passar quieto.
Que às vezes longe tanto quão quero,
Será seus olhos meu desafeto,
Ou só meus olhos sem os teus por perto?

Olho e vejo olhos de tarde
E de repente, são olhos noite.
Já perdido, nem me percebo.
E outra vez, seus olhos cedo.

Tentar não ver, impossível.
Se, tem seu olhos e seu delitos.
Eu de longe tentando não crer,
Chegam-me seus olhos trazendo você.

Olhos que me guiam em mar de versos,
- Tragam-me seus olhos que eu lhe confesso.
Quando eu, com frio e sentindo dor.
- Faço dos seus olhos, meu cobertor!