terça-feira, 9 de julho de 2013









ENSAIO SOBRE O VAZIO E À INSIGNIFICÂNCIA 

Desço as escadas do ônibus, como quem chega a uma batalha. 
Sigo os ladrilhos da calçada, percebo então que já não sigo nada. 
Observo tudo, e desta vez, sem indiferença. 
É um vazio em tudo que me esfria a alma 
Mas hoje, existe mais clareza nessa multidão. 
E é essa certeza, de está vendo tudo. 
Que me trás o medo e me deixa mudo. 

Vejo tanta gente parecida comigo 
E mesmo assim, não me sinto pertencente a nada! 
Sou um vazio dentro do vazio de algum vazio de qualquer lugar. 
Sinto isso às vezes em outras pessoas 
E essa gente parece não ligar. 
Talvez seja coisa atoa, talvez seja o nosso olhar... 

Chego até ao bar da esquina. O mesmo que eu já não frequentava, 
Fazia um bom tempo. 
Pergunto sobre o Sr.. Valdemar. - Garçom que sempre me atendia com simpatia. 
Recebo então a triste notícia de sua morte: já faz alguns anos. – Me informa o rapaz. 
Instantaneamente, uma tristeza me consome. 
Lembrei-me de tantas vezes, nessa mesma mesa. Eu escrevendo versos 
Com tantas certezas. E hoje não há mais você. E eu? Ainda não sou nada. 

Não sabemos o motivo de estarmos aqui 
Não sabemos nem se tem algum motivo. 
Vamos então vivendo. Ignorando pessoas, ignorando a nos mesmos.
Até que chegue a nossa partida e vamos ser apenas 
A surpresa da resposta, quando por nos, alguém perguntar. 
Irão ficar tristes por alguns minutos. 
Alguns, quem sabe, até irão chorar. 
Amanhã, já será passado. Já será vazio em outro lugar. 

Retiro da mochila um caderninho velho e começo a escrever. 
Como se isso me ajudasse a entender tudo 
Como se fosse fazer alguma diferença para mim, ou, para alguém. 
Ergo o braço para o garçom, ao perceber que eu já estava ali, faz tempo. 
Perdido nos meus pensamentos tolos sem fazer nenhum pedido. 

Quando chega o vinho, já estou em meia folha. 
Passaram-se meia hora. E nem ao meio, se quer, me sinto. 
Fico ali, brincando com as palavras. 
Ignorando o mundo, como assim, me sinto. 

Um casal senta-se à mesa ao lado. 
Posso sentir os seus olhares pesando em mim. 
Julgando a minha solidão, se achando tão superiores. 
Vazios! Eu sei que também são. 
Como todos nesse bar, como eu, como o garçom. 

Pintamos esse quadro de prepotência em nossos rostos 
E vivemos todos tentando nos enganar. 
Mas no final, somos só brisa que passa. 
Ausência que será preenchida 
Como um dia fizeram com o Sr. Valdemar. 

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