sexta-feira, 13 de dezembro de 2013




CAIA TEMPESTADE

 Caia tempestade, caia! Derrame sobre mim suas lágrimas frias. Lava-me o rosto e o desânimo desta vida sem sentido, que eu já não sinto e nem percebo.  Caia em mim com toda sua fúria tempestade. Que seja gelada como a saudade dos poucos dias em que me senti vivo. Que seja constante. Que eu me sinta, ao menos hoje, menos insignificante. Que tenha razão esses meus passos que se perdem na poeira indelicada deste asfalto.
  Caia tempestade, caia! Caia para que eu me erga, e, me exalte além dos muros de concreto que a inércia desta vida construiu ao meu redor. Observo um morador de rua se encolhendo de frio, e eu o invejo. Invejo-o por conseguir sentir algo. Por sentir frio, por sentir fome, por sentir sono... E eu? Esse pedaço de coisa alguma que não senti coisa alguma. Por isso, tempestade, caia! Eu lhe imploro!!!
   Três horas da madrugada, meus pés ainda, nem perto de encontrar-me. Vago como um pote vazio e sem fundo. Vago no mundo, vazio ao fundo. Andorinha em pleno inverno, pairando sobre o marasmo do tédio. Caia tempestade, caia! Caia antes que eu caia e me misture a essa neblina crua, me perca mais do que agora, misturando-me a sujeira da rua. Caia tempestade, caia! Livre-me deste automático. Deste gosto de ácido que vem do estomago, da ânsia de um pecado que me esfrie a espinha, da falta de cheiro que hoje tem meu sangue. Caia tempestade, caia! Cai antes que alguém me ame.


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